sábado, 17 de julho de 2010

O que ninguém vê

Eu sou o que ninguém vê; sou os brinquedos com os quais brinquei, as gírias que eu usei; sou os segredos que eu guardei, e principalmente os segredos que contei; eu sou o lugar para onde vou quando quero pensar na vida, ou para esquecer dela; eu sou o milagre de ter  escapado de vários acidentes; sou as paixões que já tive e ainda tenho; eu sou a conversa séria que tive com meus pais; eu sou o que eu lembro. Eu sou o que puxei da minha mãe; sou a personalidade que herdei do meu pai; sou os conselhos que recebi dos meus avós; sou a infância que me dá saudades; sou a dor que eu senti por algo não ter dado certo, por eu não ter falado o que pensava na hora, ou o arrependimento por ter falado tudo; sou também o que aprendi que não devo dizer; sou o diário que eu queimei; sou as mentiras que já contei, as verdades que não falei e os disfarces que já usei; eu sou a emoção de um trecho de livro, sou o sentimento expresso em uma música especial, sou a cena na rua que me arrancou lágrimas; eu sou o que eu chorei e choro. Eu sou o abraço inesperado, o beijo roubado, a força dada ao amigo que precisa; eu sou os momentos passados na frente do espelho, sou o tempo perdido e o tempo bem aproveitado; sou a gargalhada histérica com as amigas; sou declarações de amor; sou o grito de "uhuu! Eu consegui!" e as vezes que esse grito ficou calado; sou a palhaçada feita só pra ver alguém sorrir, sou o sorriso retribuído; sou uma crise de ciúmes, um ataque de choro na tpm, uma resposta áspera, mas sou também meu amor próprio exacerbado. Eu sou a sensibilidade que grita, a saudade que chora e a certeza que se desespera; eu sou o que esqueci de escrever aqui; eu sou o que penso e o que sinto: na verdade, sou o que ninguém vê.

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